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DEVIR PAISAGEM

 

Cristina Ataide, Liana Nigri, Luzia Simons, Marcelo Moscheta, Wirawasu, MoaraTupinambá, Patrícia Barbara (Boneca Conceitual), Pedro Vaz, Renata Cruz, Renata Pandovan, Tatiana Arocha, Vera Mantero.

 

Pode-se escolher fechar os olhos, bloquear os sentidos, negar os fatos, mas as mudanças, emcurso, na terra, estão a tomar os nossos espaços, mentes e esperanças. O gigantesco impactodas ações humanas nos ecossistemas, está a provocar um novo regime climático muito menospropício à vida, como a conhecemos. Essa agitação no tempo/espaço terrestre obriga-nos apensar novas maneiras de interagir e coexistir com os ambientes naturais.

 

Devir Paisagem, apresenta um conjunto de práticas artísticas a respeito da noção expandida de“natureza” e do pensamento ambiental, explorando a construção de novas realidades sensíveisa partir da negociação com as diferentes agências que moldam o mundo e, em diálogo, com asteorias pós-coloniais, feministas e biocentradas. Uma visão cosmopolítica da paisagem queconsidera os diferentes seres, vivos e não vivos que transformam o planeta.

 

Se a natureza é discursivamente construída, como sustenta Foucault, precisamos expandir anossa capacidade sensível e linguística para compreender e ressignificar o nosso conhecimentosobre os ecossistemas naturais. Alargar os conceitos e as ideias a partir de uma lógica plural ecircular, fundamentada nas diversas formas de existir e habitar o mundo. Nesse sentido, DevirPaisagem é campo de possibilidades, onde a paisagem nem é determinada pelo aspectogeográfico da natureza, nem é determinada pela cultura humana, mas é fruto da justaposiçãodo indivíduo e da vida que o habita. A paisagem aqui é composição, é espaço que se constrói deforma coletiva, é entrelaçamento entre as construções cognitivas, culturais, biológicas egeológicas, entre a multiplicidade de seres e espaços que ocupam a terra.

 

Se para Richard Long toda a ação na natureza deveria ser mínima e transitória, para os artistascontemporâneos a arte é fruto de uma consciência ambiental advinda da relação, daexperiência e da troca, onde o artista se opõe à construção binária do sujeito que representa anatureza objeto. A natureza passa então a ser interpretada sob a ótica dos seres, num exercíciode imaginação empática, rompendo com um regime visual estático, bidimensional, sustentadopelo olhar. Trata-se de sentir e ser sentido, confabular e ser confabulado, moldar e sermoldado, onde o artista é parte ativa da teia ecológica da vida.

 

Dos ventos, das águas, das plantas e dos animais, nasce uma efervescência de processos,matérias e técnicas poéticas que apresentam outras ontologias possíveis no fazer mundos.Alguns trabalhos são notóriamente engajados e denunciam a extinção da vida, outros dãoênfase à percepção sensorial do artista e seus processos afetivos com os ecossistemas, algunstentam dar voz aos seres e reivindicam a justiça ambiental, existe ainda a preocupação em darsentido aos fenômenos invisíveis e promover a consciência sobre as mudanças climáticas emcurso.

 

Da vontade transgressora de descolonizar a natureza, nasce um elo invisível que conecta umgrupo de artistas latino-americanos e portugueses, orientados por dimensões cíclicas entre umpassado nostálgico, um presente distópico e um futuro a ser negociado. Artistas que resistem aCapitaloceno e defendem novas políticas de existência, onde a manutenção e a conservação davida está atrelada a uma nova maneira de pensar, projetar e habitar o mundo.

 

Lilian Fraiji, 2024

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