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Todas as vezes em que pensei estar a salvo

O caminhar pela beira da praia no final de um dia, com o por do sol alaranjado no céu azul. À esquerda o mar, à direita, areia e coqueiros. Além dos coqueiros, pessoas se organizam para passar a noite na calçada da praia. Durante o dia não podem permanecer alí, mas ao cair da noite, retornam para dormir com seus animais e cobertores. Entre eles há um homem com um berimbau, vestido com a camisa do Brasil que tem um cachorro muito bem tratado. São pessoas que não voltam para casa como eu.


“Todas as vezes em que pensei estar a salvo” é uma frase que me remete a este lugar ambíguo e contraditório que são os passeios por esta praia bonita, que é também o não abrigo temporário de muitas pessoas que não tem onde morar.

“Todas as vezes em que pensei estar a salvo” é o nome da exposição que apresenta trabalhos des artistas Antonio Dorta, Bia Penha, Bianca Mimiza, Cris Panariello, Dani Abutara, Fernanda Lerner, Inácia de Boyola, Juliana Brito, Karina Walter, Laura Mallozi, Mariana Demuth, Marla Rodrigues, Nina Lima, Paulo Tripitelli, Regina Datti, Renata Cruz, Renata Malachias, Roberta Segura, Carolina Moraes e Simone Moraes.

A exposição propõe, no espaço expositivo da Casa Contemporânea, pequenos pensamentos sobre a ideia de casa, abrigo, acolhimento e cuidado. Propõe tratar também sobre os espaços de fragilidade que permeiam a nossa existência, desde as organizações sociais, o cotidiano na cidade, o lugar onde vivemos, ao corpo que temos. E a se perguntar, o que seria uma casa contemporânea na cidade de São Paulo hoje?

A casa, a cidade, o país que abriga as contradições e expõe nossas feridas.”Estar a salvo” poderia ser um caminho que nos levasse ao encontro com nossas próprias dores? Inventar e reinventar o abrigo compartilhado, a casa comum, o senso de pertencimento.

A exposição que foi suspensa desde o início da pandemia, retoma seu projeto antes de sua abertura física, pensando em como criar lugares onde possamos nos sentir em casa e juntos. E lança convites à todos que queiram participar de encontros virtuais para experiências de escuta e cuidado de si e dos seres que nos rodeiam. São encontros convite feitos pelos artistas a partir de suas pesquisas. Reuniões semanais de uma hora e meia com no máximo 20 participantes onde cada proposição dialoga com os trabalhos que estarão futuramente presentes na exposição. São eles:

-O Arcano Treze do tarô: estamos salvos? 
-Todas as vezes em que pensei estar a salvo: corpoéticas
-Pequeno kit salva-vidas: o poético como âncora – 03/09
-Todas as vezes em que pensei estar a salvo: Dispositivos que silenciam | dispositivos que comunicam
-Estados de superfície e ambiência de si
-Desenho da casa da infância, memórias de mim
-Os ninhos que criamos em nós – construção coletiva de um quarteirão de casas das memórias

 

Desta forma os artistas desejam reafirmar seu compromisso na construção de espaços de potência e cuidado, onde compartilhamos o que somos e o que podemos construir juntos. E na consciência de que a vida é também uma experiência coletiva.

Assim como o mar cintilando nos conta sobre o céu, o homem com a camisa do Brasil e berimbau, com seu cachorro feliz, nos conta também de cada um de nós, do nosso país, daquela praia e do tipo de mundo que todos os dias escolhemos viver.

Renata Cruz,
São Paulo, agosto de 2020

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